A desumanização na atualidade
Quem gosta de filosofia ou quem
porventura já leu Foucault, sabe: enquanto militante e político prezava pelo
cuidado de si. E pensando no que Hannah Arendt já dissera no seu livro: Origens
do Totalitarismo, onde analisa em minucias o antissemitismo e seu caráter
político percebendo e demonstrando tratar-se de pertencimento aterrador das
relações humanas regidas por interesses políticos e econômicos muito além do
racismo voltado então, contra os judeus em seu tempo. Usando como base autores
precursores de seu tempo criticando em tempo real, procuro lançar a discussão
sobre novas ondas que se erguem no meu, seu, nosso tempo.
A notícia: nos dá conta de que um
complô entre duas forças diversas mas muitos unidas, os donos do tráfico no Rio
de Janeiro e as igrejas evangélicas. As
segundas, desde sempre mergulhadas na ignorância e nas leituras rasas das escrituras
cristãs, decidiram unirem-se aos primeiros, em busca de ações fascistas para
dizer o mínimo e atingir o máximo da barbárie sem nexo. Ódio religioso, unido a
traficantes de drogas resultou em várias investidas dos bandidos das drogas quebrando
terreiros/e/ou casa de Umbanda/Candomblé no Rio de Janeiro.
Isso é do nosso tempo. E com o
cuidado de si, expresso pela ética na obra de Foucault, e pela condição humana
que Arendt tratou, analiso esse tempo presente que apenas noticia tais horrores
e barbáries expondo a falência de um estado falido, de leis amorfas para o
nosso tempo, e de governos preocupados apenas com seus ganhos ilícitos. Hoje
precisamos pelo menos a classe que lê e estuda ainda, observar e tentar
entender esses comportamentos da sociedade.
Na internet informações, e alguns
vídeos chocantes. Encontram-se ainda, sem nenhuma surpresa para mim, uma espetacularização
que sem o menor respeito mostra o fio condutor que se encontra, creio, na construção
ou argumentação do discurso fadado ao desumano ou como dizia Michel Foucault, o
ser inventado.
Vejamos os atos em detalhes: alguém
decide o que deve e não deve ser respeitado na sociedade brasileira e manda invadir
terreiros e casas de umbanda candomblé para assim quebrar física e
emocionalmente os símbolos de um grupo social já tão perseguido e sofrido que
são na base a nossa cultura nossa própria história.
Estamos diante de dois tipos de
sujeito: os que acreditam estar investidos do poder divino e os que estão
efetivamente apropriados dos espaços urbanos e podem ou não destruir e erguer
segundo seus próprios interesses. Certo inconsciente coletivo presente na
história humana onde o fanatismo comete desastres sem fim. Vide a Igreja
católica e a inquisição, que refere à imagem do inconsciente coletivo fanático
das igrejas evangélicas com raras exceções.
Cheios de falas mansas e criminosas
repetem paulatinamente à exaustão: isso é coisa do demônio, isso é tudo do mal,
quebra tudo isso do capeta; estou aqui em nome de Jesus – dizia a personagem da
história.
De fato, se falar em uma anomia no
conceito Durkheimiano, não seria estranho encontrá-la nas solidariedades (orgânica
e mecânica) do sociólogo, porém o suicídio nesse caso é antropológico no
sentido de resgatar uma imagem crucificada na cruz, e dar-se a si próprio o
direito de crucificar outra imagem, mas essa de uma religião afro
especificamente no terreno da política democrática, que o laico e inalienável
direito civil do outro professar a sua fé, é senão exaurido, então é diminuída
com a participação como ser social de direitos, só lhe restando o já tão fadado
direito ao silêncio.
Usar apenas metáforas ou dispor de
conceitos para resistir há mais um golpe (sim outro golpe à tão sonhada
democracia) é ser muito dócil ou desencantado desse mundo que reina a
banalidade do mal? E enxergar no discurso, no ato, na intolerância, como
encarar a isonomia da democracia?
Lembro de certo Frankenstein e ideia
de raça pura, de eugenia, de biopolítica, de aniquilação, de incongruências nos
ensaios, pois se o posicionamento político é uma resistência, então não habito
apenas o mundo das aparências ou se quiserem o sensível, mas sou do mundo das
ideias, essas que me interpelam no devir que me convidam a posicionar-me contra
a desumanização da atualidade neste fato específico contra essa absurda onda de
terror religioso.
Milton Lima.
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Que intensa discussão não?
ReplyDeleteSe fosse pensar como um ato político tal discussão, diria que o cárcere deve continuar intenso na temática. Mas é interessante o diálogo para onde e como vai nossa opinião?
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