Sunday, September 17, 2017

A desumanização na atualidade



A desumanização na atualidade

            Quem gosta de filosofia ou quem porventura já leu Foucault, sabe: enquanto militante e político prezava pelo cuidado de si. E pensando no que Hannah Arendt já dissera no seu livro: Origens do Totalitarismo, onde analisa em minucias o antissemitismo e seu caráter político percebendo e demonstrando tratar-se de pertencimento aterrador das relações humanas regidas por interesses políticos e econômicos muito além do racismo voltado então, contra os judeus em seu tempo. Usando como base autores precursores de seu tempo criticando em tempo real, procuro lançar a discussão sobre novas ondas que se erguem no meu, seu, nosso tempo.

            A notícia: nos dá conta de que um complô entre duas forças diversas mas muitos unidas, os donos do tráfico no Rio de Janeiro  e as igrejas evangélicas. As segundas, desde sempre mergulhadas na ignorância e nas leituras rasas das escrituras cristãs, decidiram unirem-se aos primeiros, em busca de ações fascistas para dizer o mínimo e atingir o máximo da barbárie sem nexo. Ódio religioso, unido a traficantes de drogas resultou em várias investidas dos bandidos das drogas quebrando terreiros/e/ou casa de Umbanda/Candomblé no Rio de Janeiro.

            Isso é do nosso tempo. E com o cuidado de si, expresso pela ética na obra de Foucault, e pela condição humana que Arendt tratou, analiso esse tempo presente que apenas noticia tais horrores e barbáries expondo a falência de um estado falido, de leis amorfas para o nosso tempo, e de governos preocupados apenas com seus ganhos ilícitos. Hoje precisamos pelo menos a classe que lê e estuda ainda, observar e tentar entender esses comportamentos da sociedade.

            Na internet informações, e alguns vídeos chocantes. Encontram-se ainda, sem nenhuma surpresa para mim, uma espetacularização que sem o menor respeito mostra o fio condutor que se encontra, creio, na construção ou argumentação do discurso fadado ao desumano ou como dizia Michel Foucault, o ser inventado.

            Vejamos os atos em detalhes: alguém decide o que deve e não deve ser respeitado na sociedade brasileira e manda invadir terreiros e casas de umbanda candomblé para assim quebrar física e emocionalmente os símbolos de um grupo social já tão perseguido e sofrido que são na base a nossa cultura nossa própria história.

            Estamos diante de dois tipos de sujeito: os que acreditam estar investidos do poder divino e os que estão efetivamente apropriados dos espaços urbanos e podem ou não destruir e erguer segundo seus próprios interesses. Certo inconsciente coletivo presente na história humana onde o fanatismo comete desastres sem fim. Vide a Igreja católica e a inquisição, que refere à imagem do inconsciente coletivo fanático das igrejas evangélicas com raras exceções.

            Cheios de falas mansas e criminosas repetem paulatinamente à exaustão: isso é coisa do demônio, isso é tudo do mal, quebra tudo isso do capeta; estou aqui em nome de Jesus – dizia a personagem da história.

            De fato, se falar em uma anomia no conceito Durkheimiano, não seria estranho encontrá-la nas solidariedades (orgânica e mecânica) do sociólogo, porém o suicídio nesse caso é antropológico no sentido de resgatar uma imagem crucificada na cruz, e dar-se a si próprio o direito de crucificar outra imagem, mas essa de uma religião afro especificamente no terreno da política democrática, que o laico e inalienável direito civil do outro professar a sua fé, é senão exaurido, então é diminuída com a participação como ser social de direitos, só lhe restando o já tão fadado direito ao silêncio.

            Usar apenas metáforas ou dispor de conceitos para resistir há mais um golpe (sim outro golpe à tão sonhada democracia) é ser muito dócil ou desencantado desse mundo que reina a banalidade do mal? E enxergar no discurso, no ato, na intolerância, como encarar a isonomia da democracia?

            Lembro de certo Frankenstein e ideia de raça pura, de eugenia, de biopolítica, de aniquilação, de incongruências nos ensaios, pois se o posicionamento político é uma resistência, então não habito apenas o mundo das aparências ou se quiserem o sensível, mas sou do mundo das ideias, essas que me interpelam no devir que me convidam a posicionar-me contra a desumanização da atualidade neste fato específico contra essa absurda onda de terror religioso. 

Milton Lima.
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2 comments:

  1. Que intensa discussão não?

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  2. Se fosse pensar como um ato político tal discussão, diria que o cárcere deve continuar intenso na temática. Mas é interessante o diálogo para onde e como vai nossa opinião?

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