O
retrato do humano póstumo a guerra
MILTON
LIMA 28-03-2020
Em
dias conturbados como os nossos, tenho escutado de amigos que realmente estamos
passando por uma guerra. E como o ser humano vai sair desta guerra é o que me
interessa pensar neste recorte. Quando encontro-os cada qual em sua casa, ainda
ouço deles que a tecnologia é fundamental.
Embora
eu busque o retrato do rosto com a face humana no tempo em que vivemos, tenho
consciência política que a vida mudou, e que sim, a tecnologia faz parte desta.
A relação social é pautada por outro retrato no século XXI. Portanto, o tempo
do rosto humano vir-se-á no presente sob o dilema de ser ou não ser humano numa
guerra sem bomba atômica.
Quando
Oscar Wilde escreveu sobre Dorian
Gray, mostrava-nos um ser humano capaz de tudo para manter-se belo. E o tempo
que nos chega é antes de tudo a respeito do que era belo, pois, estávamos
acostumados com sua rapidez nas partilhas de fotos, vídeos, de nós ensimesmados
no próprio ego. Daí retomar Wilde e
seu livro sobre tal retrato.
Primeiro
é preciso ter clareza sobre o que é real do que não é. E se tratando do humano
é possível dizer que sê-lo, no que tange o real, é viver no mundo belo ou no
mundo feio? De novo, no real ou no virtual? A subjetividade de ver o belo e conhecer
o feio passa pela objetividade do querer, e por isso, o que eu quero ver no
mundo faz total diferença naquilo que você e eu, passamos a conhecer na
representação da realidade, que em nosso tempo é muita das vezes virtual.
Saber
o que é real neste momento não é tão difícil. Há uma crise humanitária. Mas ela
foi maquiada pelo vírus e pela urgência da pandemia. Presumo no futuro que
(humanos) não mais seremos críticos a tecnologia como um mal humano, não se
trata dos bens que esta nos dera, mas dos fins que a justificaria (ser humano)
sê-lo descartável.
Enquanto
os Estados Unidos implicam sanções ao Irã, e a outros países, Cuba envia
médicos para a Itália. O que se tira do retrato desta guerra em andamento?
Creio que esta guerra apagará o retrato em que estávamos acostumados a ver nos
enterros. Havia fotografia e despedida como a morte era vista num ritual de
passagem. Esta mudança pelo visto não necessitou de muito silêncio, pois, me
parece que a consciência da representação do eu na rede, ensinou-nos dia após
dia, a bloquear o feio, a excluir o horroroso, e senão presumira que a guerra foi
contra seu estado humano, então tal herança cumpriu seu papel não humano na era
tecnológica (sem bomba lembrar-nos-á toda psicologia). Esta que se faz
perfeita no retrato que é presente, quando este o excluirá do real mundo feio
que a morte o representava como um corpo belo ou feio destinado no CEP com
entrega no fim da vida.
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