Thursday, April 2, 2020

O mundo marginal vagabundo: fique em casa e... and “stay to home”!


O mundo marginal vagabundo: fique em casa e... and “stay to home”!

Por Milton Lima: 02/04/2020



Querelle des Anciens et des Modernes...

Para o futurista anti-humanista a expressão “civilização ocidental” não teria sentido atual. E “futurista” assim existem em maior número do que o punhado de barulheiros italianos e os seus adeptos internacionais, já quase esquecidos. Sem grande exagero, pode-se afirmar que assim pensam os cientistas e os engenheiros, os médicos e os homens de negócios, os banqueiros e os secretários de sindicatos, os socialistas e os fascistas; enfim, a grande maioria. Otto Maria Carpeaux


No último artigo (artigo anterior) retomei Oscar Wilde para retratar o ser humano diante da guerra, pois bem, a guerra híbrida e psicológica continua neste extrato que tampouco tem imagem definida, que ainda não se sabe se é real ou virtual – no tratado humano. Mas o que se sabe é que o mundo financeiro (tal como a capa da revista The Economist propagou no meio de março) neste momento tem a certeza de que “todas as coisas estão sob controle”. O que significa dizer também que no Brasil – além da moeda real –, e (I believe same that) pelo globo há uma nova ordem a qual prevê manter-nos, sãos e vivos. A ordem é: “fique em casa”.

E se por um lado a narrativa de controle e experimento social expressava-se a partir do COVID-19, por outro lado a pandemia no interior deste enunciado escondia-se por trás da morte não apresentada do dinheiro. Isso acontece ao mesmo tempo em que o dólar (moeda americana) é impresso em velocidade e quantidade recorde, embora seu valor de mercado tenha cada dia que passa menos valor e lastro – e/ou garantia. Por isso, minha escolha por buscar nos poetas mortos de minha biblioteca à sanidade que se impõe sobre mim à ótica para experimentar uma estética leitura do futuro. Descobri que eles continuam vivíssimos!


Ver James Rickards in: The Death of Maney.


Quando no início do texto o austríaco Otto Maria Carpeaux nos apontara um legado futurista que soaria desde a ‘discussão dos antigos e modernos’ a luz do que seria o anti-humanista, não existia ainda o grande irmão de 1984, que Orwell havia prenunciado logo após o fim da segunda guerra mundial – antes dos anos 50.

E se agora existe o grande irmão real e não mais aquele da ficção Orwelleana, cabe-nos uma vez mantendo-se confinados no ócio de estar em casa, lembrarmos que, os desempregados vão precisar de outro ofício (seria o do poeta?) para não serem chamados de vagabundos.

Com esse mundo desenhado e transmitido em casa para salvar-nos guardar é possível voltar ao final da segunda guerra mundial – e olhar para essa no século XXI –, e na Itália encontrar o poeta Vasco Pratolini em um vagão de trem na terceira classe. De lá prosear com seu ‘ofício de vagabundo’(livro precursor de um dado na terceira classe, na terceira guerra) com a premissa do presente imaginemos esses interlocutores de máscaras e nem todos falantes de uma língua oriental, o que teríamos senão o caos?

Se não fossem os bancos tão donos do mundo seria possível a nós (reles) a desconfiança que eles jamais aceitariam um ofício de vagabundo? E por isso me dei o trabalho de sentar com meu dicionário da década de 1970 e pesquisar o significado de vagabundo. A etimologia da palavra que tem sua origem no latim – vagabundu – representa o adjetivo: vadio, ou aquele que vagueia; tal como o errante e nômade que é inconstante, ora leviano e também porque não pilintra, por fim, um desocupado e ocioso.  

Fora o medo que gera este vagabundo o mesmo que, agora é visto mais seguro em casa, também tem o outro que vive na margem, talvez sempre visto como vagabundo? Melhor dizendo quando este foi visto livre senão estivesse preso? O mendigo, ou aquele que não está em casa e que mora na rua, esse logo não pode ficar em casa, então vale a pergunta com quem é que ele fica? Então o famigerado preconceito ao marginal se revolta e é perceptível na poesia. Somos presos agora e, portanto marginais? Eu e você estamos nos sentindo presos em casa?

Na linha do vagabundo, também tive o trabalho de bisbilhotar meu dicionário, e lá estava à bendita palavra do latim, margine. E lá vamos nós falar da dor marginal...

E quem está à margem é o vagabundo. A sociedade o vê como vagabundo, mendigo ou delinqüente e fora da lei, e seus relativos escritos decantam da margem.

Muitos destes que são vistos como vagabundos, têm seu nome sujo, devem para o banco que cobra 300% de juros no cheque especial, e quando seu nome aparece como credor, então vem o adjetivo, ainda que você não ouça hão de soletrá-la: vagabundo – porque você está devendo. E será que eu e você numa situação como essa teríamos a opção de não ficar devendo?


O mundo volta-se para seu próprio bolso e visa os vagabundos que vão pagá-los a conta. E acreditem os vagabundos sempre pagam – com juros e correção. Ainda que quase ninguém os chame pelo real nome, o sistema financeiro manda e o mundo inteiro vagabundo e marginal tem obedecido sem nenhuma reflexão.

Sim, com o COVID-19, tudo mudou, dólares salvarão a todos os paises da América da Latina, estes que pegarão muito dinheiro (aquele sem lastro), e não será nenhum absurdo se eles que nos governa chamar-nos-ão a todos os 99 % de endividados da humanidade pelo nome: vagabundos marginais, tendo ou não conta no banco, tendo ou não casa própria, tendo ou não emprego. A herança e os herdeiros fadados desde o início do banco mundial a pagá-los, me parece que a justiça será feita e aos marginais e vagabundos a conta chegará. Bem a dúvida é quem não é vagabundo segundo o dicionário e a ordem do governo fique em casa, senão pagar com o dinheiro emprestado dos bancos, será que vão pagar com a vida? É a questão para pensar, quem tem fome pode esperar? Parece-me que os bancos não podem esperar quem dirá a economia, mas em todo caso a ordem para nossa salvação é fique em casa...

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