O
mundo marginal vagabundo: fique em casa e... and “stay to home”!
Por
Milton Lima: 02/04/2020
Querelle des Anciens et des Modernes...
Para o futurista anti-humanista a expressão
“civilização ocidental” não teria sentido atual. E “futurista” assim existem em
maior número do que o punhado de barulheiros italianos e os seus adeptos
internacionais, já quase esquecidos. Sem grande exagero, pode-se afirmar que
assim pensam os cientistas e os engenheiros, os médicos e os homens de
negócios, os banqueiros e os secretários de sindicatos, os socialistas e os
fascistas; enfim, a grande maioria. Otto
Maria Carpeaux
E
se por um lado a narrativa de controle e experimento social expressava-se a
partir do COVID-19, por outro lado a pandemia no interior deste enunciado
escondia-se por trás da morte não apresentada do dinheiro. Isso acontece ao
mesmo tempo em que o dólar (moeda americana) é impresso em velocidade e
quantidade recorde, embora seu valor de mercado tenha cada dia que passa menos
valor e lastro – e/ou garantia. Por isso, minha escolha por buscar nos poetas
mortos de minha biblioteca à sanidade que se impõe sobre mim à ótica para
experimentar uma estética leitura do futuro. Descobri que eles continuam vivíssimos!
Ver James Rickards in: The Death of Maney. |
Quando
no início do texto o austríaco Otto Maria
Carpeaux nos apontara um legado
futurista que soaria desde a ‘discussão dos antigos e modernos’ a luz do que
seria o anti-humanista, não existia ainda o grande irmão de 1984, que Orwell havia prenunciado logo após o fim
da segunda guerra mundial – antes dos anos 50.
E
se agora existe o grande irmão real e não mais aquele da ficção Orwelleana,
cabe-nos uma vez mantendo-se confinados no ócio de estar em casa, lembrarmos
que, os desempregados vão precisar de outro ofício (seria o do poeta?) para não
serem chamados de vagabundos.
Com
esse mundo desenhado e transmitido em casa para salvar-nos guardar é possível
voltar ao final da segunda guerra mundial – e olhar para essa no século XXI –,
e na Itália encontrar o poeta Vasco
Pratolini em um vagão de trem na terceira classe. De lá prosear com seu
‘ofício de vagabundo’(livro precursor de um dado na terceira classe, na
terceira guerra) com a premissa do presente imaginemos esses interlocutores de
máscaras e nem todos falantes de uma língua oriental, o que teríamos senão o
caos?
Se
não fossem os bancos tão donos do mundo seria possível a nós (reles) a
desconfiança que eles jamais aceitariam um ofício de vagabundo? E por isso me
dei o trabalho de sentar com meu dicionário da década de 1970 e pesquisar o
significado de vagabundo. A etimologia da palavra que tem sua origem no latim –
vagabundu – representa o adjetivo:
vadio, ou aquele que vagueia; tal como o errante e nômade que é inconstante,
ora leviano e também porque não pilintra, por fim, um desocupado e ocioso.
Fora
o medo que gera este vagabundo o mesmo que, agora é visto mais seguro em casa,
também tem o outro que vive na margem, talvez sempre visto como vagabundo?
Melhor dizendo quando este foi visto livre senão estivesse preso? O mendigo, ou
aquele que não está em casa e que mora na rua, esse logo não pode ficar em
casa, então vale a pergunta com quem é que ele fica? Então o famigerado
preconceito ao marginal se revolta e é perceptível na poesia. Somos presos
agora e, portanto marginais? Eu e você estamos nos sentindo presos em casa?
Na
linha do vagabundo, também tive o trabalho de bisbilhotar meu dicionário, e lá
estava à bendita palavra do latim, margine.
E lá vamos nós falar da dor marginal...
E
quem está à margem é o vagabundo. A sociedade o vê como vagabundo, mendigo ou
delinqüente e fora da lei, e seus relativos escritos decantam da margem.
Muitos
destes que são vistos como vagabundos, têm seu nome sujo, devem para o banco
que cobra 300% de juros no cheque especial, e quando seu nome aparece como
credor, então vem o adjetivo, ainda que você não ouça hão de soletrá-la:
vagabundo – porque você está devendo. E será que eu e você numa situação como
essa teríamos a opção de não ficar devendo?
O
mundo volta-se para seu próprio bolso e visa os vagabundos que vão pagá-los a
conta. E acreditem os vagabundos sempre pagam – com juros e correção. Ainda que
quase ninguém os chame pelo real nome, o sistema financeiro manda e o mundo
inteiro vagabundo e marginal tem obedecido sem nenhuma reflexão.
Sim,
com o COVID-19, tudo mudou, dólares salvarão a todos os paises da América da
Latina, estes que pegarão muito dinheiro (aquele sem lastro), e não será nenhum
absurdo se eles que nos governa chamar-nos-ão a todos os 99 % de endividados da
humanidade pelo nome: vagabundos marginais, tendo ou não conta no banco, tendo
ou não casa própria, tendo ou não emprego. A herança e os herdeiros fadados desde
o início do banco mundial a pagá-los, me parece que a justiça será feita e aos
marginais e vagabundos a conta chegará. Bem a dúvida é quem não é vagabundo
segundo o dicionário e a ordem do governo fique em casa, senão pagar com o
dinheiro emprestado dos bancos, será que vão pagar com a vida? É a questão para
pensar, quem tem fome pode esperar? Parece-me que os bancos não podem esperar
quem dirá a economia, mas em todo caso a ordem para nossa salvação é fique em
casa...
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