Artes da minha memória
Pensando na
vida: me pego avesso.
Pensando na
arte: sou revolucionário.
Pensando em mim:
o que sou na história?
Pensando no fim:
não avisto o começo.
Pensando no
encontro: permito-o no ensejo.
Na vida vejo-me
no cotidiano – sou àquele formigueiro.
Em construção
vejo a palavra – na caixa de areia.
Na/o estante uma
língua pôs-se em movimento – uma linguagem loquaz.
E a sociedade
que se forma: transformá-la-á longínqua minha memória.
A história que
se lê não se aplica a qualquer época, pois houve um momento de guerra – mas que
a máquina o substituiu – e como se fosse efêmera dispersou-se: transformou-se
em desconhecida metamorfose de formigas.
** Léxico das
formigas
Revolução é um
contador de história – seus netos o chamam formigão. Na escrita: formigão conta
a sua maior descendência – extinção – como o mundo esqueceu as formigas. Na
vida: Revolução colecionou muitos amigos – alguns poetas, outros pintores, mas
os mais próximos e com quem mantivera contato através de sons, chamava-os
músicos. E a música que não recordara a letra, apenas o compositor – fora
escrita com o nome de educação. Seu compositor Michel Montaigne: na prisão da
minha memória ensina – o formigueiro se vê no ensaio.
Formigão com a
educação: lembra em suas histórias – o fato do mundo não conhecer as formigas. Ao
usar o compositor que lançou o ensaio; ensino aos meus netos – na dialética das
formigas – como a guerra: se tornou barbárie e esquecimento.
Meninos e meninas
prestem atenção no que o vovô vai dizer: artes da minha memória é a nossa
história. No registro de nascimento trago, além da formação em Filosofia – a
tradição da espécie formiga. O diploma – herança – que o mundo faz questão de
apagar trouxera-nos pensamentos, assim o vovô lera com orgulho o seu nome na
escola clássica das formigas: Revolução de Geração da Leitura dos
Clássicos.
Crianças podem fazer-me
um favor – estou velho e este deve ser meu último escrito. Atenção à frase que
li na década de 60. Escrevera Cacilda Buter “O mundo é dos jovens”. Prometam a
seu avô, que não vão esquecer que o mundo é nosso, sim: das formigas. Quando
meu primeiro filho nasceu, fiquei feliz, pois pandora sua mãe, não poderia ter
lhe dado outro nome, assim o seu nome seguiu a tinta no papel – que gerou em
ciclos todos vocês. Um nome lindo e ao mesmo tempo tão temeroso: Conhecimento de
Geração da Leitura dos Clássicos. Entre milênios a música fez parte do
cotidiano das formigas; meu filho como um bom historiador, trouxera-me tudo que
havia de melhor e mais inacessível no mundo. Mas o fato de permitir-me a tantas
e densas amizades, à memória sempre me prega um poema, como sabem, o avô aqui,
têm dificuldades em lembrar-se de todos os nomes, por isso, de vez aparecerá na
história algum acontecimento que circunda a arte: à revolução. Enfim, formigas:
o que têm curiosidade e necessidade em saber – já estou pronto a responder. No
entanto, só poderão expressar-se após um trecho de um poema – não sei se estou
enganado, mas parece ser de um grande amigo do vovô – um comunista chileno e
amigo de Picasso.
Por estar em
outra língua, assim como não lembrara por completa a letra da música educação,
aos seus netos fora negado este poema – meus netos: agora convosco o direito a
palavra.
***Léxico acesso
ao formigão
Vovô, entre
tantos amigos que a nós – formigas – o mundo tende a controlar o acesso; minha
mãe – comunicação – disse-me pela manhã: hoje tem artes da minha memória, filha
vá ao encontro. Chegando lá: escute a história que meu pai há de contar.
Entre primos e
filhos, às formigas da sua geração vovô, teve o papel importante de nos criar,
porém o fardo que nos tem dado desde o seu filho; causa entre nós uma ruptura
abrupta – o conhecimento não conhecera todas as formigas, e a extinção de nossa
espécie é o fim do mundo. Sem muito tempo a contar-me história vovô, meu pai, Museu,
sempre que pôde, falara de ti. Hoje sou uma formiga conhecida graças ao
formigão – disse-me uma vez. Confesso-lhe que estava curiosa para conhecê-lo
vovô. Mas na minha pequena história de formiga, não poderia de tanto em tanto
interpelar-me sem que o visse na primeira palavra escrita da pequenina
imaginação. Minha irmãzinha mal começara falar e soara aos ecos sonoros a
palavra revolução. Também pequena me deitei na rede, e com a imaginação na
minha cabeça pensei: revolução das formigas, pai do conhecimento, pois é
revolução: de uma geração em extinção. Isso me intrigava! Minha primeira
alteridade se recepciona na capacidade de entender meu sobrenome, pois me
chamo: Flora de Geração da Leitura dos Clássicos.
Enquanto o
formigão esquecera os poemas, fico procurando na memória, a tal letra, e não
consigo encontrá-la, porque das formigas tiraram a educação? Vovô meus primos
acreditam muito na falácia que é o consenso. Hoje lendo Michel Foucault e
seguindo a tradição da família das formigas – ensinando Filosofia, lhe pergunto
vovô onde foi parar a letra da educação?
****Léxico
Geração
Receio
decepcioná-la minha neta Flora. Mas mesmo correndo o risco de assim expô-la,
devo defender meu filho – o conhecimento. Minha memória permite falhas, é bem
verdade. Permite-me ser insone no mundo – que deixara a vossa geração um anseio
pelo futuro; mas como bem lembrara minha neta, vossa herança é a extinção.
Uma geração que
não sabe o que são. Defino em sua questão Flora, uma pequena passagem de um
amigo – em um poema trocado entre nós na prisão.
Pensando na
morte: sou encontro.
Pensando na
cobiça: sinto-me preso.
Pensando na
geração: sou luta.
Pensando na
carta: sou o papel da tinta.
Pensando em
escrever: vejo-me perdido.
Pensando em
crescer: a vida é lida.
Se notar Flora,
o poema habita minha memória. Pensando na sua geração, posso lhe garantir que a
música educação existira. Fui contemplado em ouvi-la, mas agora entendo sua
extinção – da música e também das formigas.
Como deve ter
percebido minha neta, a vida de um velho e contador de história não é exata – começando
pela minha memória. Mesmo assim, devo continuar escrevendo, e lendo, e o meu
maior legado é fazer da vossa geração ler-me e mesmo na minha morte fazer-me viver.
Pode pensar, mas quem? digo-lhe minha querida Flora, o ciclo da vida está no
DNA das formigas. Rememorar essa nossa conversa um dia será o papel de seu pai
– meu genro Museu.
Hoje sua
geração, está como você vem ensinando com Foucault – na história da sexualidade.
Portanto, em transição e por vê-la na extinção: esse nosso último diálogo há de
servir de lição às próximas formigas. Você escolheu escutar artes da minha
memória. Com quase 60 anos de vida – e escuta pela primeira vez minhas últimas
palavras. Seu avô já é centenário. Sua mãe fez bem em enviá-la – cabe agora a
ti viver sua história e contá-la: como não se esquecer das formigas.
Flora, minha
neta, seu avô pretende deixar a resposta a sua indagação à própria vida
responder. Ser formiga e ter o conhecimento, a comunicação, no acontecimento
nuclear, faz de ti minha neta: uma espécie rara – em extinção. No entanto,
também sou interpelado pela música que não recordo tão bem a letra, e se queres
saber o porquê a ti fora negado a educação – vou procurar interpretá-la na
guerra como subversão.
Na minha
primeira aula Flora, na faculdade de Filosofia, a professora convidada, havia
ganhado todos os prêmios acadêmicos das últimas décadas. E por isso fora
convidada a proferir a aula inaugural – com o título: As formigas de hoje serão
esquecidas amanhã.
Pensando nesta
palestra vejo o quão ela é atual, e sua geração corre risco de extinção Flora –
é a memória que se perde na prisão do esquecimento, citara a professora
Ideologia na aula inaugural.
*****Léxico
Formigão e sua neta
Pensando no fim:
vivo a guerra.
Pensando a
existência: sou absurdo.
Pensando
potência: viro palavra.
Bem com a
citação do poema que meu pai trocara com seu amigo na prisão, ainda procuro a
letra da educação – acabara de ler em voz alta. Ao perceber a porta se abrir, e
vê-la chegar, comunicação sorri e diz: Flora como foi lá? Pelo visto hoje
realmente foi o último dia de artes da minha memória.
No meu
pensamento abriga a prisão, poxa mãe, apenas isso – sei sobre a música
educação. Está pequena frase, me deixara muito intrigada! O vovô disse que
deixará a vida me ensinar, o porquê fora negada à minha geração a música
completa da educação.
Flora querida,
calma. Em algum momento seu avô falou de seu pai? Sim, mas o que isso quis dizer:
eu não sei. Minha Filha, qual o legado da sua geração, o que é o acontecimento
extinção? Comunicação olha nos olhos da
filha e é mais dura nas palavras: Menina você aprendeu alguma coisa?
Mãe seu pai é um
poeta, um filósofo respeitado na história, mas como lhe disse: o vovô só disse
defender o titio, que por sinal, pouco se houve falar hoje em dia – o
conhecimento.
Na minha
memória... Flora, qual o problema porque não termina a frase. Meu tio mamãe:
estou pensando nele. Porque afinal, a nós fora ofertado o esquecimento? Ah,
antes de responder-me, quero que saiba o que o vovô pediu para seus últimos
contadores de história – sim, ele disse que: seríamos como ele, grandes
contadores de histórias.
Hoje sou um
centenário, mas a vós têm chegado apenas – que o mundo esquecera nossa espécie.
Pude falar um pouco da grande Ideologia. A professora que ensinou a guerra, a
professora que estudou a política e por fim a professora que sabia que seriam
as formigas um dia esquecidas. Tenho uma sugestão a cada um de meus netos:
procurem, mesmo que o mundo disser-lhes que está tudo perdido, procurem. E foi assim que ele terminou sua fala:
procurem.
******Léxico mãe
e filha
Filha na verdade,
o esquecimento é a ironia na vida sem memória. Seu tio costumara dizer: O mundo
esqueceu as formigas.
Fim
Notas da filha
da comunicação: à caçula.
Encontrei
algumas folhas jogadas e empoeiradas na estante do hospital. A enfermeira me
disse: sua irmã que fora extinta da espécie das formigas deixara em uma
semente: artes da minha memória. Chegara
até o hospital sua herança – história de quem vive na prisão.
Encontro-as
perdidas na guerra. E neste hospital a duvida persiste: quem fora a neta do
Formigão – herdeira da revolução. Minha irmã Flora, mesmo sabendo que o mundo
nos esquecera, ela não se cansou – e procurou-me até que leio no verso da
primeira página as formigas procuram até mesmo a imaginação.
Em cada folha
lida, olhava o mundo esquecido, e me via no terminal, no hospital, e minha
memória vivia – sabia que no legado ainda havia a casa do papai Museu. Aos meus
netos.
*Imaginação de
Geração da Leitura dos Clássicos
Milton Lima
28-12-2016 *14h:08mnt