A
felicidade é uma arma Geopolítica
Ao som de Belchior
“saia do meu caminho”. Por Milton
Lima. 02-24-2020.
Por
aqui nas bandas não tão largas do Brasil, pouco se lê na mídia ou meios de
comunicação sobre a greve na Petrobrás.
Eu faço do caso uma novela tanto irônica diria, enquanto presumo o porquê do
não lugar da opinião pública sobre o ocorrido; e como sendo de práxis por aqui
se contar o final feliz depois que se apagam as luzes, me parece ser a tônica desta
questão nacional. Nada tão cômico que o trágico não faça-nos aguardar até o fim.
De volta a felicidade, retomemos a canção ‘saia
do meu caminho’, do saudoso Belchior
(1946- 2017) – nos dissera para não esquecê-lo, pois ele “preferiria andar
sozinho e decidir a própria vida”.
O
compositor e cantor de música popular brasileira até parece que compôs para o
nosso tempo presente. Recobrar a memória é lembrar Belchior e sua canção, que infelizmente não é apenas ‘Alucinação’. Mas atravessa-nos no tempo
à medida que nos ofertara seu ‘Coração
Selvagem’[1].
Pois, ele dissera na ocasião, não estar interessado em nenhuma teoria.
Talvez
seu delírio o fizesse poeta são que longe da realidade estaria livre das coisas
reais. Senão poeta do nosso tempo ao menos não esquecera de avisar-nos do que
viria com o mundo novo, ah, elas, a solidão e o medo (se quiserem palavras
presas). No tempo do homem que não viu a lua por não se vê na terra (seria
tela?) plana, fora o cantor cirurgião quando nos apontou ‘em nenhuma fantasia’
estar interessado? Por se interessar em ‘amar e mudar as coisas’? Ou por sua
pressa de viver que o velou tão jovem?
A
felicidade é uma arma? Sim caro Belchior,
ela é uma arma ‘Geopolítica’. Quando a chamada não sem propósito se volta à
vida feliz, quer-se chamar mais que sua atenção cara (o) leitor (a). O que é a
tal felicidade? Mas como conectar a questão ‘saia do meu caminho’ a esta felicidade? Vejam as imagens que
contextualiza nosso texto e tirem suas conclusões. Será que mostra-nos a
felicidade? Então para respondê-la: leio os jornais.
Nos jornais do Brasil nada se lê da greve da Petrobrás que tampouco é discutida pela imprensa, à venda das
refinarias de petróleo no país.
Isto
se concretizado deve aumentar o desemprego e dificilmente encontraremos com
quem esteja disposto a falar de felicidade. Portanto, o tema e a música popular
brasileira se bifurcam em busca de uma saída onde vira muito bem Belchior que sua e nossa ‘alucinação é
suportar o dia-a-dia’.
Paralelo
a tal arma que consiste a política no país (não esquecendo que estamos em ano
eleitoral no Brasil) nos é apresentado o vírus e a felicidade de viver longe
dele; conquanto neste momento as deixemos de lado (por enquanto) e voltemos
nosso olhar para Europa – que se estende para Eurásia e resvala na América
Latina. Nas imagens acima vimos uma mulher (fonte La
Republica ) de máscara no rosto. E na segunda imagem –
ambas na Itália – (fonte El Pais) uma
reunião com o primeiro ministro do parlamento italiano, Giuseppe Conte, para tratar do alerta, em que se tem registro, até
o momento de centenas de contaminados (veremos alguns números doravante), no
país. Segundo as reportagens o COVID-19 fez duas vítimas fatais (23/02/2020).
A
imagem a seguir é do jornal New York Times[2].
Conforme lida a palavra que me parece ser indigesta na política do Brasil se
transforma em quase tudo, menos não à toa, na esquecida palavra ‘crise’. No
entanto, ela se esconde noutra palavra mágica, esta faz surgir à felicidade,
alguém sabe qual é a mágica? Qual senão a economia...
E
por isso voltemos à China, USA, e a guerra comercial que se estende
por uma verdade não muito conveniente. Tal verdade se torna indelicada quando
fadada à pobreza, a fome, e a calamidade da saúde pública. A economia e o sistema
financeiro mundial continuam independentes ou dependentes da crise? ‘Tudo de
novo’ diria outra vez Belchior, e
diria em tempo que ‘era estudante da vida’...
E
sem esquecê-lo:
Belchior e o Pequeno
mapa do tempo – trecho.
Eu tenho medo de abrir a porta... E se lá encontrar? (...) o fantasma escondido no porão... Medo, medo, medo, medo, medo... E
se não encontrar-me no tempo?
Eu tenho medo e já aconteceu... Morre o
meu medo e isto não é segredo...
Quando no final de dezembro de 2019, o mundo se preparava para uma nova
década, se viu com espanto a nota emitida na cidade de Wuhan na China, que
comunicava o mundo tal alerta de perigo - 2019-n Cov. Após o anúncio se viu em
diversos ambientes o medo, o extremo valor e principalmente o controle. E a OMS
controlada pela ONU era responsável por coordenar todos os trabalhos sobre o
tratamento do vírus[3]. Segundo Daniel
Bernabé (05/02/2020) pouco tem se
falado da infra-estrutura em que a China
foi capaz de construir (exemplo um hospital em 10 dias) depois do alarme de
urgência, mas pelo contrário muito se fala do isolamento anglo-americano para
lidar com o vírus. Não nos esquecemos que lá (USA) se paga para receber o
atendimento no hospital, e se eles estão preparados para enfrentá-lo, é uma
coisa, o que basta saber é se os mais pobres vão poder pagar. A crítica sob um
espelho humano é conduzida por Bernabé
que vê os dados da população em estimativa de vida em escala crescente, onde 72
anos é a média global. Enquanto o primeiro país do ranking, a Espanha, já alcançara
os 83 anos nesta escala. Esta expectativa de vida traz conjunto a si outro
louvor de alcance à felicidade de se poder viver mais? Ou a pergunta sobre não
imaginar o fim do capitalismo é substituída pela imaginação da vida humana? Exemplo,
nas ficções ultimamente não tem nos faltado, basta lembrarmos do filme de Steven Soderburgh, Contágio (2011). Por
último Bernabé indaga se não seria um
risco deixar os imigrantes sem cobertura sanitária? Os que não param de chegar
à Europa.
Sabe-se
neste momento que a Itália é o primeiro país europeu com maior contágio do
COVID-19.
Na
continuidade das leituras dos jornais, La Republica
(02/23/2020), destacou que Roma assinou um decreto para proibir a mobilidade
humana nas zonas afetadas. Segundo a reportagem de Michele Bocci e Matteo
Pucciarelli, diversos municípios e províncias registraram casos. Piemonte, Lombardia, Padova, Codogno, Milano,
Veneto, e Lazio.
O
jornal espanhol El Pais (ditto),
chamou atenção para o epicentro do contágio COVID-19, na região mais bem
sucedida financeiramente da Itália – Lombardia.
Por
sua vez o New York Times (ditto) é o
jornal que estende a preocupação. Apontou casos em outros países de mortes pelo
COVID-19; Estes passando pela Coréia do Sul e Japão. E enfatizando os números
de alarme, 763 casos foram registrados em seis dias na Coréia do Sul. E por fim
destacando na costa da Líbia havia um navio que foi recusado com centenas de
imigrantes.
As
luzes estão se apagando devagar. No Brasil não se tem muita notícia da greve
dos petroleiros. Enquanto isso na China Xi Jinping anunciou (02/23/2020) em comunicado
seu agradecimento a Bill and Melinda
Gates Fundation pela ajuda de R$100 milhões para o combate do COVID-19. E
trouxe na sua fala que o mundo deveria se unir em cooperação para enfrentar a
epidemia.
E
se buscamos Belchior, um cantor de
música popular brasileira para esta análise, não o fizemos à toa, mas com o
devido compromisso de pensar numa reflexão política em pleno carnaval por essas
bandas trópicas. E saia do meu caminho, não é nenhum bloquinho de folia, muito
menos é tão somente um calor súbito de mais um jovem latino americano, e sim
desvelar o fantasma que mora no porão.
A
pobreza tem se intensificado, e o espetáculo que o mundo não vê, se chama
guerra híbrida. A nova rota da seda está em pauta, e esta guerra que envolve o
COVID-19 é por tecnologia e poder. Portanto, esta guerra não vai terminar com o
fim dos créditos que hão de subir no apagar das luzes.
Enquanto
a economia dirige a felicidade nestas bandas; na Itália 50 mil pessoas se
encontram em quarentena.
Se
por acaso ela, sim, a felicidade, resolver se esconder e sair do meu caminho,
que não venha à economia dizer-me que a culpa foi minha. E também se por acaso
apenas os pobres não mais ler os jornais, saberei que o medo emprestou-me com
juros toda a sorte de estar no Brasil - o país do coração selvagem. Que as
palavras presas se tornem palavras, de Kafka,
Tolstoi, Shakespeare, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Dostoievski, Clarice
Lispector, Nietzsche, Freud, André Gide, Hannah Arendt, Toni Morrison, Joyce,
Homero, Dante, Maquiavel, Darcy Ribeiro, Milton Santos, Fanon, Achille Mbembe,
e Raquel de Queiroz. A lista continua, mas prefiro deixá-la com a
interpretação de Noel Rosa com seu “último desejo”.
[1] Ver
Belchior em <https://www.youtube.com/watch?v=dGzXuHr9uf0>
[2] Ver o
link.
[3] Veja
reportagem completa sobre o tema em: <https://actualidad.rt.com/opinion/daniel-bernabe/342164-coronavirus-sociedades-frente-espejo
> Acesso 23 fev. 2020